sábado, 3 de março de 2012

O exemplo de Joanice (Rodrigo Vargas)

Algumas perdas são sentidas pelo que já passou. Outras pelo que poderia ter sido. 
No caso de Joanice Pierini, o que me atormenta é não apenas a saudade e a gratidão imensas que levarei para sempre comigo. 
É também a frustração de ver uma pessoa com tanta capacidade, sonhos e talento, ir embora assim, tão absurdamente cedo.

Tive o privilégio de conhecê-la na redação do Diário de Cuiabá e, com seu exemplo, perceber que é possível, sim, ser um jornalista objetivo, organizado e rigoroso, sem perder a capacidade de se emocionar e de levar sua emoção ao leitor (seu legado de grandes reportagens fica como prova e símbolo dessa capacidade rara).

Naquele período, mesmo nos momentos de maior tristeza - e foram tantos -, era com profissionalismo, e às vezes até um sorriso no rosto, que ela encarava mais um dia de trabalho. 
E como trabalhava aquela menina. 
E como contribuía, sempre generosa, para aprimorar o trabalho dos colegas.

Na última vez que nos encontramos, ela ainda tentava se adaptar à nova vida em Brasília. 
Morava sozinha - em um daqueles cubículos que no Distrito Federal ganham o nome de apartamento -, trabalhava em uma atribulada assessoria de imprensa e ainda encontrava tempo para free-lances em grandes veículos de circulação nacional.

Me contou que tentara emplacar uma pauta no Correio Braziliense. 
Estava fascinada com os Dragões da Independência. "Vida de Dragão", disse-me ela, com um sorriso, apontando para o soldados que fazem a guarda solene do Palácio do Planalto. "Ninguém sabe quem são, como vivem, o que pensam do Presidente".

Em seus olhos, vi que não estava feliz. Seu coração ainda batia em Cuiabá. 
Mas era com esperança e o mesmo ar altivo de sempre que ela se apegava a seus sonhos e projetos, e os defendia com tamanha intensidade, que era mesmo difícil imaginar que não conseguisse realizá-los, um a um, pela vida afora.

Mas não deu. A doença foi, enfim, mais forte que do que a nossa "oncinha". 
Choro pela amiga e também por tudo o que ela não teve tempo de realizar. 
Choro sua família, que a acolheu nos últimos momentos. 
Choro por nossa impotência diante da morte.

Que ela viva agora, e para sempre, no coração dos amigos.

RODRIGO VARGAS é jornalista...

Nenhum comentário:

Postar um comentário