sábado, 3 de março de 2012

JOANICE PIERINI LOUREIRO (Américo Corrêa)

De texto atribuído a William Shakespeare, extraio algumas frases para homenagear a minha saudosa amiga Joanice Pierini, falecida recentemente, em Campo Grande. 
"Depois de algum tempo você aprende a diferença, a sutil diferença entre dar a mão e acorrentar uma alma". 
Joa era assim. Sempre de mão estendida, mas nunca acorrentando ninguém, nem sendo acorrentada. Livre, linda.
Era, em sua meiguice, em sua doçura, uma construtora. Alguém que aprendeu a construir suas estradas no hoje. 
Sabia, talvez pela sua rara doença, que o terreno do amanhã é incerto demais para os planos. 
Tinha a cabeça sempre erguida, os olhos adiante... Mesmo em momentos de abatimento, de tristeza, tinha força para transmitir graça. 
Por isso, conviver com ela foi um privilégio.

Nosso último encontro foi em Brasília, num barzinho. Faz tempo. Contou animada ter encontrado um grupo com o mesmo raro problema no pulmão. Agora sim, tiraria de letra. Mas estava voltando para Campo Grande. Cuiabá, novamente, talvez. 
Mas sua família estava em Campo Grande... 
Depois disso, alguns telefonemas. Verdadeiras amizades continuam a crescer mesmo a longas distâncias...

Citei Shakespeare porque ele foi um dos assuntos na mesa. Fixamos boa parte da nossa conversa nesta frase, do texto “Aprender”: "... E aprende (demos) que não importa o quanto você se importe, algumas pessoas simplesmente não se importam...".

Joa foi um ser humano iluminado, que se importava com dezenas de coisas, que estava preocupada com o País, com o que é certo, com o que é ético, com o que é sério, com o que é correto. Odiava a indiferença. Era um ser humano que precisávamos merecer para tê-lo como companhia.

Joanice Pierini foi uma grande jornalista. Ética, honesta, competente, comprometida com a seriedade do ato de informar. 
Foi, também, paciente. Sabia que a paciência requer prática. Sabia que maturidade tem mais a ver com os tipos de experiência vividos e o que se aprendeu com eles, do que com quantos aniversários você já celebrou. 
Por isso, embora jovem, menina, sabida, verdadeira jornalista.
Fazia tempo que eu não me permitia algumas lágrimas. Foi pela manhã. Conversando com um amigo, perguntando de outro que estava hospitalizado. 
A notícia varou o estômago, foi como um murro na cara. Chocado, sentido, chorei quieto, para Joanice não ouvir. Consolei-me com uma prece. Afinal, também conversamos sobre perdas. 
Não importa em quantos pedaços nossos corações estejam partidos, o mundo não vai parar para que nós os consertemos.Joa sabia disso. 
Então, por Joanice Pierini, continuemos caminhando. Ela vai gostar. 
Mesmo com essa tremenda sensação de ausência. 
Quem diria, morrer, logo ela. Deus fez uma baita aquisição.

 AMÉRICO CORRÊA é jornalista...

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